Casos de abandono de animais aumentam durante fim de ano
Férias e festas de final de ano provocam mais casos de abandono enquanto abrigos da região enfrentam lotação
Por Mahyara Luiza
O abandono de cães e gatos volta a preocupar com a chegada das férias e das festas de fim de ano. A Secretaria de Meio Ambiente reconhece a alta entre dezembro e fevereiro, mas ainda não dispõe de estatísticas consolidadas. A pressão sobre os abrigos cresce nesse período, segundo gestores municipais. A Polícia Civil registrou 4,2 mil inquéritos por maus-tratos entre 2019 e 2024, número que inclui abandono e confirma a dimensão do problema.
Em Joinville, ainda não há dados oficiais que indiquem o ritmo de crescimento, mas a lotação permanente dos abrigos funciona como indicador indireto da demanda. Levantamentos nacionais divulgados em 2024 apontam alta média de 30% nos casos entre dezembro e janeiro, tendência reforçada pela CNN Brasil, que relaciona o movimento às mudanças de rotina típicas da época.
A legislação prevê punições. A Lei Federal nº 14.064/2020 enquadra o abandono como maus-tratos. Em Santa Catarina, o Código Estadual de Proteção aos Animais determina sanções administrativas, já em Joinville, a Lei Complementar nº 691/2024 exige comunicação de indícios ou ocorrência de maus-tratos. Mesmo assim, os registros oficiais não acompanham a quantidade estimada por protetores, há casos que ocorrem sem denúncia e ficam fora das estatísticas.
Uma pesquisa realizada pela Cobasi Cuida em 2023, dezembro e janeiro são as datas que mais acontecem abandonos e devoluções de animais, juntamente com o mês de julho. De acordo com Osnilda Bachtold, uma das fundadoras e coordenadora atual do Abrigo Animal em Joinville, muitos desses animais são deixados em caixas, vias públicas ou casas vazias durante as viagens. Além disso, muito dos filhotes adotados por impulso no meio do ano são devolvidos ao atingir porte adulto. Para o abrigo, a falta de planejamento familiar e a adoção sem orientação alimentam o ciclo de abandono e impulsiona a sobrecarga dos abrigos e ONG’s de proteção.

Instituções joinvilenses enfrentam lotação
O Abrigo Animal de Joinville enfrenta superlotação. A coordenadora do abrigo acompanha o movimento desde a criação do abrigo, há 24 anos. Ela relata que dezembro marca a pior fase do ano. “Chega final de ano, não vem para adotar. Vem para trazer. O pessoal pensa somente nas férias”. Por causa da falta de espaço, parte dos resgates permanece temporariamente no Centro de Bem -Estar Animal de Joinville (CBEA). “Ultimamente está ficando mais lá, porque a gente está com superlotação. Logo eles também vão estar, não sei como vai ficar”, afirma. Segundo Osnilda, a prefeitura recolhe animais feridos, realiza o tratamento e depois repassa ao abrigo para adoção. O apoio financeiro cobre apenas parte da ração.
As devoluções aumentam no início do ano. “De janeiro até março voltaram mais de 20 animais. Nós ficamos muito chateadas. Adotam filhotes com dois meses e devolvem quando têm seis meses ou um ano”, afirma. Para ela, o impacto emocional é grande e profundo. “O animal não entende. Ele nunca esteve em um abrigo”.
Na rede privada, o quadro é semelhante. A estudante Larissa Sacenti, 23 anos, estagiária de uma clínica veterinária, afirma que o abandono é muito recorrente. A clínica que ela trabalha mantém parceria com o Instituto Au-Miau. “Praticamente todos os que estão lá são abandonados”, relata. O local abriga cerca de 15 animais, incluindo gatos com esporotricose, uma micose subcutânea causada por fungos, que é tratada com subsídio do município. Larissa relata casos de violência e um desses casos envolve um cachorro atropelado pela própria família. O animal teve uma fratura na pelve. “A dona insistia para fazer eutanásia porque dizia que não gostava do cachorro. A gente precisou fazer ela assinar um termo de entrega e ficamos com ele”, conta. Para a estagiária, as leis precisam ser mais rígidas. “As pessoas abandonam como se os atos delas não tivessem consequências”.
A fundação mantém programas de adoção e apadrinhamento de animais idosos durante o ano, para reduzir gastos e estimular visitas. Voluntários ajudam no cuidado, mas o fluxo de animais supera a capacidade atual. A instituição recomenda que os tutores planejem hospedagem, cuidadores ou transporte antes de viajar. Para as entidades, a responsabilidade contínua é a principal medida para conter o abandono.
