Veganismo conquista jovens
Catherine Kuehl, 28 anos, natural de Joinville, e Lívia Rampinelli, 21 anos, de São Paulo, cortaram a carne de suas dietas ainda na adolescência. A paulista é vegana desde os 16 anos e a catarinense há 5, pois antes era vegetariana. Elas fazem parte dos 7 milhões de veganos que vivem no Brasil, de acordo com uma pesquisa do Ibope realizada em 2018.
A joinvilense tornou-se vegetariana aos 17 anos, quando em uma de suas viagens, avistou um caminhão que transportava porcos. “Lembro de pensar na situação dos animais que estavam nas gaiolas do meio, sem pegar vento e sujos de urina e fezes dos outros porcos. Meu primeiro sentimento foi não querer mais fazer parte disso”, lembra Catherine. Ela tornou-se vegana quando resolveu pesquisar mais sobre a causa animal e a indústria do leite e do ovo.
Diferente de Catherine, Lívia foi apresentada ao veganismo por duas amigas, uma do curso de inglês e a outra em uma festa de aniversário, onde todos os quitutes eram veganos. “Naquela festa conversamos sobre o movimento e plantou-se uma sementinha na minha cabeça”, recorda a paulista.
Nos dias que se sucederam à festa, a jovem pesquisou sobre o movimento vegano, assistiu a documentários e após mais uma ida à aula de inglês, tomou a decisão de cortar alimentos de origem animal da dieta. “Eu fui doida e parei com tudo de uma vez, mas isso não é o certo, pois o nosso corpo está acostumado a consumir determinados alimentos, e do nada você muda, daí é complicado”, reflete Lívia.
Adaptação requer conhecimento sobre nutrientes
Para Catherine, a adaptação à nova alimentação foi tranquila e benéfica para a saúde, porque descobriu novas comidas e adquiriu mais conhecimento sobre os nutrientes que precisa consumir. “Nunca passei mal, pelo contrário, minha alimentação melhorou muito, descobri novos sabores, passei a comer mais vegetais, aprendi novas receitas, aprendi a montar um prato saudável com as proporções necessárias para uma alimentação balanceada”, avalia a catarinense.
Ao cortar derivados do leite e ovo, ela passou a comer menos doces, queijos e ultraprocessados. “Comecei a comer mais comidas que eu mesma faço. Percebi que minha saúde melhorou”, destaca.
Catherine alerta que o vegano não necessariamente é mais saudável em comparação a quem não adere ao movimento. “A pessoa pode ser vegana e comer muita fritura, ultraprocessados e comidas ricas em açúcar. Só que, no meu caso, o veganismo me ajudou a ter uma alimentação mais natural e balanceada”, reflete.
Quando Lívia parou, por conta própria, de comer alimentos derivados de animais, o corpo dela sentiu-se fraco. “Na época, eu tinha muitas dúvidas de como substituir os alimentos e como faria para comer fora de casa”, lembra. Além disso, seus pais foram contra a mudança de alimentação. “Eles ficaram muito preocupados e falaram que os meus ossos não iriam crescer e eu ficaria muito fraca”, conta.
Nas primeiras semanas com uma dieta vegana, Lívia sofreu quando precisava sair de casa. Na escola onde estudava, não podia levar comida de casa, porque a instituição tinha um cardápio definido. “Eu ficava sem comer por muito tempo quando não tinha fruta”, relembra a paulista. Além disso, a falta de conhecimento sobre alimentos e não ter o apoio dos pais no início dessa decisão foram outros obstáculos na vida dela. “Passaram-se três meses e o meu pai percebeu que eu não mudaria de opinião. Foi aí que ele me levou para uma nutricionista”, relata.
A nutricionista desapontou Lívia ao proibi-la de vetar ovos e leite do seu dia a dia porque, segundo a profissional, deixar de comer esses alimentos prejudicaria o crescimento e fortalecimento dos ossos. “Ignorei o que ela falou, porque sabia que o veganismo existia há muitos anos e várias pessoas viviam sem ovos e leite”, concluiu. Após a consulta, voltou para casa e pesquisou nutricionistas especializados em dietas veganas. “Demorou um pouco até que encontrei uma que pôde me instruir de como me alimentar corretamente”, alegrou-se. Por ter se alimentado incorretamente por meses, Lívia precisou de suplementos no início da dieta. “Depois de um tempo o corpo vai acostumando e consegui viver tranquilamente”, comemora.
Lívia acabou conseguindo convencer a nutricionista e a coordenadora da escola a prepararem lanches que ela poderia comer. Para as duas jovens, o movimento vegano é fraco em Joinville. Catherine desconhece a existência de algum grupo veganista na cidade. Lívia nota maior envolvimento dos paulistas. “Em São Paulo tem mais gente que apoia o movimento, logo é mais fácil de fazer alguma manifestação. Fora que a visibilidade é maior quando fazem na Avenida Paulista”, compara.
Lívia sugere o podcast União Vegana de Ativismo para quem deseja conhecer melhor o movimento vegano . Além disso ela assiste a séries, filmes e documentários sobre indústrias de animais. “Muitas coisas a gente consome sem saber direito de onde vem. Fico indignada como escondem todo o sofrimento dos bichos, é um absurdo. Envolve muita gente que tem poder de mercado”, destaca. Catherine aconselha os interessados pelo veganismo a seguirem nas redes sociais influenciadores desse estilo de vida. “E também perfis que falem de veganismo popular”, completa.
Orientação de nutricionista
Marilyn Ferreira, nutricionista, define o veganismo como um processo de escolha e autoconhecimento. “Envolve muito mais do que a alimentação. É uma questão sustentável, as pessoas precisam focar em um novo estilo de vida, buscando melhorar todo um sistema político-social através da alimentação”, reflete.
Para uma pessoa se adaptar a uma dieta vegana, segundo a nutricionista, é preciso considerar que cada corpo responde em prazos diferentes. “É muito individual, tem gente que demora 1, 2, 3 anos”, avalia. Marilyn alerta os interessados pelo veganismo a fazerem substituições de alimentos, para que a saúde não seja prejudicada. “É importante se adaptar e adquirir o conhecimento do que é alimento, não basta simplesmente tirá-lo. A alimentação tem que ser ampliada”, pontua.
Aqueles que buscam iniciar uma dieta vegana, além de procurar por um nutricionista, precisam comer alimentos com maior fonte de aminoácidos e vitaminas do complexo B. Elas são encontradas nas leguminosas e em comidas integrais. “Um vegano consegue ser saudável sem vitaminas sintéticas. Basta comer alimentos como feijões, lentilhas, grãos de bico, cereais e tubérculos como aipim e batata-doce. Tem que voltar até a terra para procurar os nutrientes que estão na diversidade alimentar”, aconselha.