Ansiedade e depressão atingem estudantes
Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2030 a depressão será a segunda maior doença do mundo. De acordo com o psicólogo Leandro Prates de Lima, isso não se deve ao crescimento de casos, mas ao aumento de diagnósticos da doença em consequência da maior procura por profissionais, resultado da conscientização e informação. Os dados da OMS apontam que de 15% a 25% dos jovens universitários vão adquirir algum transtorno psicológico ao longo da vida acadêmica.
A intensa carga de responsabilidades e as exigências não só pessoais, mas do mercado de trabalho, que muda de maneira muita rápida e exige que as pessoas alcancem a mesma velocidade são fatores que corroboram para a ativação de doenças psicológicas nos jovens. “São gatilhos que ajudam para a manifestação desses distúrbios. As pessoas atingidas são mais vulneráveis, geneticamente falando, ao fenômeno de ‘over action’ que é a maximização de problemas”, afirmou o psicólogo .
No Brasil, pode-se apontar para outro fator: 60% dos jovens entre 15 e 29 anos trabalham e estudam, o que exige um esforço muito maior do que os 41% que se dedicam exclusivamente aos estudos. Para a estudante Letícia Machado, 18 anos, o distúrbio de ansiedade se manifestou quando ela estava no ensino médio. Após uma mudança de turno, o nervosismo por não conhecer muitas pessoas desencadeou uma gastrite. “Trabalhava de manhã, fazia curso à tarde e à noite eu ia para a aula. Foi nesse ano que eu passei muito mal, todos os dias”, conta. Entre outros gatilhos, a preocupação com bolsas de estudo e com notas pode contribuir para a manifestação dessas doenças.
O acompanhamento profissional é fundamental para os alunos que já passaram ou ainda têm que lidar com problemas psicológicos. “Fiz tratamento durante um ano. Procurei ajuda porque a ansiedade deixou de ser só uma preocupação do futuro, ela me atrapalhava no dia a dia, me travava. Eu tinha tantas coisas para fazer e no final não conseguia fazer nada porque a ansiedade não me deixava”, afirmou Letícia.
O psicólogo Leandro Prates cita o uso de terapia cognitiva como tratamento para esses estudantes, a fim de identificar os pensamentos contrários à realidade. “Muitos pensamentos impedem o indivíduo de ter uma postura resistente diante dos obstáculos e situações que ele pode enfrentar ao longo da vida acadêmica ou da vida profissional posteriormente”, explicou. A respeito da influência do modelo de ensino sobre a vida dos estudantes, Leandro, que também é professor, reconhece não ser o modelo perfeito, mas reforça a importância de o aluno saber como administrar emocionalmente cada situação.
Acompanhamento necessário
Várias instituições de ensino superior já adotam uma estrutura e acompanhamento capaz de oferecer um suporte para alunos que estejam passando por depressão e outros transtornos. Na Univille (Universidade da Região de Joinville), o Centro de Relacionamento com o Estudante cuida disso há quatro anos. De acordo com o psicólogo Hermerson Eckermann da Silva, sempre que algum acadêmico apresenta necessidade é encaminhado para atendimento médico ou psicológico. “Quem não tem plano de saúde é encaminhado para uma UBS (Unidade Básica de Saúde) que, por sua vez, se entenderem que há a necessidade, encaminham para o Caps (Centro de Atenção Psicossocial), serviços do município”.
Na Faculdade Ielusc, a assistência é feita através do Serviço de Apoio Psicopedagógico, que acompanha a aprendizagem dos estudante, além de palestras e campanhas que possuem para informar e orientar os alunos a respeito da organização do tempo e estudos. “Acolhemos os estudantes nas suas dificuldades de aprendizagem e possíveis causas”, afirma a psicopedagoga Anelise Muxfeldt. Para ela, a responsabilidade pelas pessoas com depressão ou ansiedade também é social e não apenas do sistema de ensino atual.
Para Hermes, a pressão social contribui para o estresse demasiado dos estudantes que, ao concluírem o ensino médio, muitas vezes sem maturidade suficiente, entram em conflito com as diversas exigências da família, competição entre os colegas e represálias sociais. “Percebemos que a falta de objetivos, a saciedade e a falta de fé no futuro são as principais causas que levam à depressão. O medo é a principal causa das ansiedades”, avalia.
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Muito relevante a abordagem desta temática. A revista super interessante do mês de fevereiro, trás uma abordagem em relação a ansiedade e segundo dados levantados recentemente, o Brasil é o pais mais ansioso do mundo! Parabéns!