
Clima impacta na safra e causa perdas na produção agrícola
Por Larissa Hirt
A chegada oficial do verão no hemisfério sul acontece dia 22 de dezembro às 00h27, no entanto, o calor já se faz presente nas últimas semanas dos catarinenses. Além do tempo esperado da estação – dias quentes e com muitas chuvas – em Santa Catarina também se nota uma variação climática de alta amplitude, seu máximo chegando a 13 graus em 24 horas. Isso se dá por conta de uma série de condições climáticas, como, por exemplo, o El Niño e pode afetar inclusive a produção agrícola.
No Brasil, os maiores impactos em decorrência do El Niño são o excesso de chuva acima da média climatológica, de acordo com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), na Região Sul e a seca recorde na Amazônia. Também foi observado que o aumento da temperatura em várias regiões do planeta é resultado do próprio aquecimento global. Além do El Niño, durante o verão também ocorre um aquecimento natural no Brasil e na América do Sul. Vale ressaltar que a média da temperatura do país no verão é de 31-33 °C, segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
Tais condições podem afetar diretamente o desempenho na agricultura. A instabilidade do clima, este ano, já gerou perdas de R$ 33,7 bilhões no campo, sendo R$ 24,6 bilhões na agricultura e R$ 9,1 bilhões na pecuária, segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
Além disso, dados do primeiro prognóstico de 2023, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram um recuo de 2,8% na safra agrícola de 2024. A produção deve totalizar 308,5 milhões de toneladas, 8,8 milhões a menos que o desempenho de 2023.
A agricultora, Gabriela Becker, 22, comenta que o excesso de chuva limitou o desenvolvimento das plantas, e as altas temperaturas podem continuar prejudicando a safra. “O calor causa um estresse nas plantas, no cultivo da soja, por exemplo, ocasiona o abortamento das flores e compromete a qualidade dos grãos na colheita”, explica.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou um estudo que mostra o avanço da intensidade nos extremos climáticos no Brasil. Entre 1961 e 1990, o número de dias consecutivos secos era, em média, de 80 a 85 dias. Subiu para cerca de 100 dias para o período de 2011 a 2020 nas áreas que abrangem o norte do Nordeste e o centro do país. O número de dias com ondas de calor passou de sete para 52 em 30 anos.
Em uma entrevista para o Jornal Estado de Minas Nacional, o climatologista e, chefe do departamento de geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Francisco Aquino, comenta: “Todos os modelos de previsão climática sazonal que olham a primavera e o verão indicam 70% de chance de as temperaturas estarem acima da média”.
O engenheiro agrônomo, Rogério Pietrzacka, 42, explica que o verão quente é verão normal, então as culturas plantadas no verão já são adaptadas ao clima. “Mas quanto mais quente, haverá problemas para as culturas. Temperaturas maiores de 34 °C já prejudicam. A planta deixa de ‘crescer’, para apenas respirar e conseguir suportar estas temperaturas”, completa.
Expectativas para a colheita
A safra de verão marca o início do ano agrícola e costuma ser o período mais rentável para a produção. Tem as condições mais favoráveis para os principais cultivos do país, como a soja e o milho, fazendo as plantas maximizarem seu potencial produtivo.
Mas os produtores não estão tão otimistas dessa vez. “As expectativas estão baixas para a colheita, foram muitos os fatores que comprometeram a safra, perdemos a melhor janela de plantio e também tem dificuldade para manter a sanidade das plantas”, desabafa Gabriela.
Por fim, Gabriela comentou que a exposição de plantações a temperaturas elevadas podem resultar em uma diminuição tanto na qualidade quanto na quantidade de sua produção. Pragas podem ser uma das consequências, assim como a disseminação de doenças em animais que se alimentam daquele cultivo. Becker concluiu que a modificação nos padrões climáticos representa uma ameaça concreta à segurança alimentar global, provocando flutuações nos preços dos alimentos.