Como o universo do K-pop pode influenciar o comportamento de jovens e movimentar a economia
O estilo atua na experiência dos ouvintes enquanto impulsiona economias e conecta fãs de diferentes origens
Por Camila Bosco
A onda do pop coreano, mais conhecido como Kpop, intensificou-se nos últimos anos pelo mundo inteiro, atraindo admiradores das mais variadas etnias e regiões. A nova geração de jovens está cada vez mais apaixonada pelo gênero e empenhada em fazer parte da comunidade de fãs. Estes, por sua vez, compartilham alguns trejeitos em comum: o cabelo colorido, as vestimentas e as gírias são parte da identidade do público consumidor.
Esse estilo alcançou proporções significativas que acertou economicamente alguns países nos setores de turismo, alimentação e até mesmo o mercado de cosméticos. Os fãs, por sua vez, ganharam o sentimento de pertencimento ao refazer as coreografias ensaiadas e os figurinos montados, além disso, colecionam photocards dos grupos favoritos.Alguns chegam a viajar até a viajar ao redor do mundo na tentativa de ficar de ficar mais perto de seus ídolos.
A cada nova era com a estreia de novos artistas, mais características se moldam na personalidade e na influência dos consumidores. É assim que pensa Bruna de Oliveira Bárbara, 21, que está na comunidade há quase 8 anos. Para ela, o lançamento de videoclipes formou tendências nas vestimentas dos kpoppers (gíria que define os seguidores). Em 2016, itens como máscaras faciais de urso, bastões de luz e o moletom amarelo de rosquinhas marcaram essa época. “Se eu avistasse alguém vestido com um acessório tão específico e que fosse familiar para mim, perceberia logo que a pessoa poderia acompanhar alguma pontinha de Kpop”, disse ela.
Bruna completa que os shows no Brasil se tornaram grandes espetáculos com a vinda de grupos populares. ‘’Por conta desses fãs não saberem se o grupo poderia alguma vez voltar a fazer show aqui, os fãs vêem como uma das únicas oportunidades de estar perto do seu artista favorito’’. Neste ano, o grupo NCT 127, o favorito de Bruna, desembarcou em São Paulo com a turnê Neo City – The Link. Ela acompanhou de pertinho a performance e segundo ela, o concerto superou todas as expectativas, embora tenha ficado chateada por seu integrante preferido não ter participado, ela agora coleciona memórias também com as amigas que conheceu através da internet.
O país recebeu a banda The Rose no festival Lollapalooza e foi eleito o melhor show da noite em uma votação popular do portal de notícias G1. Já o grupo feminino Aespa, sensação do momento, reuniu uma plateia de todo o país em um show único na cidade paulista, as integrantes se emocionaram com o público e uma delas recebeu dos fãs uma camiseta do Flamengo personalizada com seu nome.
A psicóloga Karla Klaus, 28, pós-graduada em terapia cognitiva, explica que o ambiente em que vivemos influencia diretamente no comportamento de cada pessoa e acredita que a busca constante pela necessidade de pertencer a um grupo social, molda cada pessoa de acordo com o local onde ela está inserida. Para Karla, existe uma visão de pertencimento dos fãs que os conecta diretamente com o estilo de vida de seus ídolos, os jargões e as vestimentas são parte disso. “Assim, formam um grupo com gostos em comum, e o sentimento de pertencimento a um grupo, traz satisfação. Somos movidos pelas nossas interações sociais, e muitas vezes, o sentimento de pertencimento faz com que nós nos moldamos, somos sempre influenciados pelo meio.”
Em decorrência disso, esse universo musical é completo de gírias populares entre os simpatizantes, certamente este é um reflexo da cultura pop e vibrante que os cerca. Expressões como “bias” para definir o membro favorito do grupo, “comeback” para quando o ídolo retorna à mídia com uma música nova, “maknae” para o membro mais novo e “visual” para destacar a beleza única de alguém, são apenas alguns termos dentro desse dicionário extenso que foi difundido pelo público. Tal diversidade linguística é um reflexo da própria globalização do Kpop com fãs ao redor do mundo contribuindo para a riqueza e a evolução contínua desse vocabulário, visto que alguns destes termos se popularizaram entre outros estilos como o pop ocidental. Não é difícil encontrar publicações de internautas que usam algumas dessas palavras, o “comeback” da cantora norte-americana Rihanna, por exemplo.
Os figurinos das celebridades sul-coreanas têm tamanha influência em popularizar produtos para os jovens que é assim que muitos se tornaram embaixadores globais das marcas de luxo, como Hyunjin do grupo Stray Kids sendo embaixador da grife italiana Versace e Jennie do Black Pink com a Chanel. Eles também participam das primeiras filas nos desfiles de moda, nas campanhas publicitárias e em eventos internacionais. Foi dessa forma que produtos para limpeza de pele se espalharam entre os fandoms após assistirem as lives das celebridades.
O poder na economia
A Coreia do Sul, onde a categoria se originou, está prosperando com o mercado global. O Kpop se tornou um produto de exportação sul-coreana, o país investiu profundamente no mercado de entretenimento após diversas mudanças políticas e socioeconômicas acontecendo nos países vizinhos, o gênero teve impulso no final da década de 1990.
Hoje, quem embarca nesta indústria passa pelos “treinamentos artísticos” que incluem treinamentos de dança, canto, comportamento, mídia e idiomas durante anos para aperfeiçoamento. Segundo o relatório da Hyundai Research Institute de 2018, o Kpop movimenta mais de US$3,6 bilhões na economia.
No Brasil, somente no primeiro semestre de 2023 foram vendidos mais de 20 mil produtos diversificados nas plataformas on-line, conforme a Nuvemshop. Segundo dados da plataforma de música Spotify, de 2014 a 2020, os ouvintes de Kpop cresceram em 1.800% entre os brasileiros.