Esporte como ponto de virada: joinvilense supera desafios psicológicos através do jiu-jítsu
Sarah Falcão
Aos 14 anos, Emily Silva brilha no tatame e conquista lugar em competições catarinenses
Engana-se quem pensa que o Brasil é conhecido apenas como “país do futebol”. O jiu-jítsu tem conquistado cada vez mais espaço, destacando-se pela eficácia nas competições e pelos impactos na saúde mental e no desenvolvimento pessoal de crianças e adolescentes. A arte marcial envolve cuidados com a alimentação, controle de peso, sono de qualidade e uma mente preparada para agir com precisão no momento certo. Essa combinação tem ajudado muitos jovens a se desenvolverem tanto fisicamente quanto psicologicamente. A faixa cinza Emily Silva, de 14 anos, encontrou no esporte uma forma de enfrentar e superar crises de ansiedade que a seguiam desde os 11 anos.
As dificuldades antes do envolvimento no mundo esportivo destacam-se na história de Emily. Aos 7 anos, a atleta joinvilense foi diagnosticada com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e DPAC (Distúrbio do Processamento Auditivo Central), o que impactava negativamente seu desempenho escolar e bem-estar. “Antes de começar jiu-jítsu eu tinha muitas crises de ansiedade, tomava remédios, mas ainda não adiantava”, conta a adolescente.
A virada de chave ocorreu quando ela pediu à mãe, Keila Winter, 43, para experimentar uma aula no jiu-jítsu ou no muay thai. “Pensei que a Emily não ia se identificar com isso porque achei muito difícil, um esporte cheio de técnica. Mas deixei ela fazer, o apoio dos pais faz um diferencial muito grande”, lembra a mãe.
Logo após assistir a uma amiga competir, Emily voltou determinada a também participar das competições e enfrentar os desafios no tatame. Em menos de um ano de prática, a adolescente notou melhorias significativas em sua saúde física e mental. “Comecei o jiu-jítsu e foi uma das coisas que ajudou na minha ansiedade. Hoje não preciso mais tomar remédio”, diz a joinvilense.
Gustavo Riesenberg, professor de jiu-jítsu, conta que notou melhora e evolução durante o tempo de treino de Emily. “Os resultados dela no esporte começaram a aparecer. Ela ganhou vários campeonatos, que aumentaram a confiança. Algumas derrotas também aconteceram e com elas o aprendizado para recomeçar e voltar mais forte”, explica o professor.
O papel do Jiu-Jitsu na regulação emocional
Mariah Theodoro, psicóloga clínica e do esporte, explica que o exercício físico regular desempenha um papel fundamental na regulação de neurotransmissores no cérebro. “Não só existe uma regulação fisiológica, como também o alívio de sintomas que nos levam a sentir em maior intensidade quando estamos sob tensão. O movimento do corpo é excelente para reduzir a vulnerabilidade emocional”.
A prática do jiu-jítsu deve ser iniciada de forma gradual e consciente, para que não ocorra problemas de saúde, ou que a pessoa comece sem indicações médicas. A psicóloga explica que é necessário ter um check-up médico em dia para começar a treinar com a saúde em ordem.
“Depois, encontrem uma academia onde se sintam acolhidos, joguem-se na experiência e não fiquem presos ao desempenho, mas sim ao prazer do processo de aprendizado. Gradualmente, isso aumentará o foco e o prazer de estar ali”, destacou Mariah.
Por mais que haja competição, a psicóloga afirma a importância de respeitar os próprios limites, sem comparações com pessoas mais avançadas.“É importante deixar que os limites sejam as respostas para as quais você deve continuar preservando e destravando passo a passo. Não se compare aos outros, mas a você mesmo. Cada dia será um e cada dia uma nova experiência de si, de seus movimentos, de sua cognição. A consistência valerá mais a pena do que a intensidade. Se desvendar nas artes marciais aumenta nossa confiança sobre o que somos capazes, no que somos bons ou não tão bons”, completa.